Golpe militar na Turquia - Memórias de Outros tempos - Por António Valadas

A tentativa de golpe militar que ocorreu esta noite na Turquia trouxe-me à memória um outro golpe, dessa vez bem-sucedido, que ocorreu em Setembro de 1980.

Tinha chegado a Istambul na véspera e, como era meu hábito, ficara instalado no simpático Hotel Kennedy, um hotel que tinha várias vantagens: ficava mesmo ao pé de Taksim, a principal praça de Istambul, era muito em conta e os quartos do último andar tinha terraços com óptima vista sobre o Bósforo.

Da varanda do Hotel Kennedy (Istanbul)

Um pequeno á parte: ontem à noite, enquanto que seguia o noticiário da Euronews um comentador português referiu a ponte sobre o “Rio Bósforo”!!!!! Francamente. Há que ter o mínimo de cultura geral, ainda por cima porque estava a referir-se à ponte que liga dois continentes.


Voltando à minha história. Saí do hotel na manhã seguinte e notei que havia algo de estranho no ar. Rapidamente percebi do que se tratava quando cheguei a Taksim e vi a praça cheia de tanques e de soldados. No entanto, apesar do ambiente militar as pessoas circulavam e faziam a sua vida normal. Decidi fazer o mesmo mas, devo confessar, era a primeira vez que me encontrava num local onde decorria um golpe militar.

Praça Taksim com carros blindados (Istanbul)

Fiz a minha vida normal, visitei os meus amigos e fui aos locais onde já tencionava ir. Havia várias versões sobre o que se estava a passar, mas não havia pânico. No entanto, foi uma experiência diferente. Os soldados de vez em quando mandavam-nos parar ou então não nos deixavam ir para certos locais.

Entrada da Universidade de Istambul

Uma vez estava calmamente a almoçar num restaurante onde ia bastantes vezes e entraram vários soldados armados que mandaram toda a gente levantar-se e encostar-se às paredes. Como passo facilmente por turco, nem pensei em dizer nada, levantei-me e fiz o mesmo. Revistaram-nos e depois foram-se embora.

Mesquita Sultan Ahmet (Istambul)


De outra vez a minha amiga Nural tinha-me vindo buscar para ir à casa dela no lado asiático. Estávamos a atravessar a ponte, essa mesmo que mostraram na televisão e que é tão parecida com a nossa ponte 25 de Abril, quando os soldados mandaram parar o carro. A Nural saiu com o seu ar impassível, olhou-os bem de frente e disse algo que eu não entendi. Imediatamente fizeram imensas vénias, pediram desculpa e mandaram-nos seguir. O pai dela era alguém bastante importante no país e ela deve ter feito referência ao facto.

E foi assim que passei aqueles dias em Istambul, sempre rodeado de militares e de restrições mas sem qualquer verdadeiro incómodo. Como tinha apenas ido lá para rever alguns amigos antes de seguir para outro local o acontecimento não me alterou grandemente os planos e fiquei com mais uma história para contar.

Entrada do Palácio Dolmabahçe (Istambul)

Domador de ursos (Istambul)

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